sexta-feira, 17 de julho de 2015

Vitamina C na dieta de Porquinhos da Índia - Artigo

ÁCIDO ASCÓRBICO NA ALIMENTAÇÃO DE PORQUINHO DA ÍNDIA DE ESTIMAÇÃO: DIETA, VALORES, ARMAZENAMENTO E DEFICIÊNCIA
Autor: Caio César Ribeiro Silva
Data: 17/07/2015

Objetivo – Esta revisão bibliográfica tem como objetivo principal verificar se a dosagem diária recomendada de ácido ascórbico de 20mg é obtida por meio das dietas recomendadas nas literaturas para animais de estimação. Tem como objetivo secundário conscientizar tutores dos porquinhos da índia a fornecer a quantidade de vitamina c necessária ao animal e os cuidados necessários com o armazenamento. Como demais objetivos destaca-se: Apresentar os motivos biológicos da ausência da síntese da vitamina nos porquinhos e sua forma natural de obtenção, apresentar a dieta recomendada, descrever as inúmeras complicações médicas geradas pela ausência do ácido ascórbico (AA) na alimentação, e apresentar a taxa de degradação do AA em hortaliças, sucos, frutas e suas variáveis.

  1. DESENVOLVIMENTO
O Ácido Ascórbico (C6H8O6), também conhecido pela sigla AA ou popularmente Vitamina C foi inicialmente sintetizado por Haworth e Hirst e se tornou o suplemento vitamínico mais utilizado no mundo.  A maioria das plantas e animais sintetizam grandes doses do AA diariamente, mas humanos, primatas não humanos, morcegos, porquinhos da índia e outros tipos de animais não sintetizam a vitamina devido à ausência de enzima oxidase da l-gulonolactona em seu organismo. Estes animais necessitam de suplementação diária do AA, naturalmente obtido pela alimentação, como frutas e vegetais frescos (melão, tomate, mamão, couve-flor, uva, entre outros). Outra forma de suprir a necessidade diária é por meio de vitamina c sintetizada, comprada em farmácias, esta é quimicamente idêntica a natural e não apresenta nenhuma diferença na atividade biológica.
          É conhecido que a molécula do AA pode ser, em diversos casos, inativada pelo cozimento, portanto se recomenda o uso do alimento cru ou em forma de suco. Em humanos a absorção da vitamina c em dosagens recomendadas é próxima a 90%, valor que em superdosagem cai expressivamente, além de causar diarreia, mesmo não sendo tóxico. O AA é sensível ao ar, luz, calor, umidade e é destruído facilmente por armazenamento prolongado.
           Cavia porcellus, também conhecido como porquinho da índia, preá da índia ou guinea pig, são animais de natureza dócil e utilizados para alimento humano, alimento vivo, cobaias e em menor número como animal de estimação. Sua alimentação é a base de ração própria, água, feno de capim, frutas e vegetais, como não sintetizam vitamina c esta deve ser complementada por uma solução em gotas. A dose diária de AA varia de 10 a 30mg por kilo de animal diariamente. Como média se receita 20mg por dia por animal. Os sintomas da falta de vitamina c se manifestam rapidamente, de duas a três semanas e com grande gravidade. Sintomas verificados em cobaias e animais de estimação são descritos a seguir:
  • ·         Paralisia de patas traseiras ou paralisia total;
  • ·         Articulações inchadas;
  • ·         Queda de pelos;
  • ·         Bambeamento e queda de dentes;
  • ·         Fraqueza;
  • ·         Anorexia;
  • ·         Fezes Amolecidas e Diarreia;
  • ·         Perda de peso;
  • ·         Perda do poder de reprodução;
  • ·         Perda do número e qualidade de espermatozoides;
  • ·         Diminuição dos testículos;
  • ·         Menor ingestão de alimentos;
  • ·         Diminuição da concentração de insulina no plasma;
  • ·         Inibição da síntese de DNA;
  • ·         Diminuição da expressão do DNA em colágeno nos ossos, pele e cartilagem;
  • ·         Diminuição da cartilagem;
  • ·         Dificuldade em cura de lesões cutâneas;
  • ·         Deficiência na absorção de ferro;
  • ·         Deficiência em proteínas que dependem do ferro;
  • ·         Escorbuto;
  • ·         Secreção nasal e ocular;
  • ·         Tumefação das articulações costocondrais;
  • ·         Gengivite;
  • ·         Coagulação comprometida;
  • ·         Hemorragia em músculos subcutâneos;
  • ·         Gengivite;
  • ·         Predisposição a fratura;
  • ·         Músculos esqueléticos.

Grande parte destes sintomas foram detectados em apenas um estudo, realizado com foco na relação entre espermatozoides e vitamina c em C.porcellus, neste estudo foram utilizados 20 machos adultos com idade entre 350 e 450 gramas. Os cobaios foram mantidos em gaiolas individuais de 50x30x30cm, com temperatura variando entre 25 e 30°C, além de 12 horas diárias de luz. O grupo foi separado em dois, com dez indivíduos cada, ambos os grupos com alimentação semelhante: ração Purina para coelhos com ausência de AA, água e capim a vontade. A diferença se verifica que apenas um grupo, além da alimentação descrita, foi suplementado com 50mg de vitamina c por dia diretamente na água de beber. A quantidade foi baseada em estudos anteriores e em animais domésticos não se aplica este método. As condições acima foram mantidas por 21 dias.

Como resultado se obteve grande parte dos sintomas acima, sendo os mais destacados a variação de peso e capacidade reprodutiva. O grupo com restrição de AA apresentou uma queda de 7% no peso corporal total, enquanto o grupo suplementado apresentou um ganho de 25% do peso corporal. A variação da capacidade reprodutiva é apresentada na tabela a seguir:


Cobaias Suplementadas com AA
Cobaias Deficientes em AA
Peso absoluto do testículo (mg)
1145,00 ± 005
795 ± 0,02
N° de espermatozoides (milhão/ml)
40,20 ± 4,00
10,80 ± 1,5
Mobilidade dos espermatozoides (%)
80,00 ± 5,90
58,00 ± 2,0









     A perda de peso já havia sido comprovada por três estudos anteriores, em 1991 e 1994, em que na terceira semana de carência os cobaios apresentaram anorexia.
    Alguns autores, inclusive recentemente, defendem por estudos e teses que o AA tem efeito protetor contra choque anafilático ou que a ausência do AA é um dos causadores do choque. Não existe uma definição clara, já que estudos anteriores foram bem claros quanto a não influência do AA no choque. Em um estudo de 1942 publicado na Revista de Medicina, vinte cobaias foram sensibilizadas com a injeção de 1 cc. de soro de cavalo, a sensibilização teve um período de três semanas, após o procedimento as cobaias foram sacrificadas de forma padrão, com pancadas na cabeça, e tiveram pedaços do seu intestino delgado removido para análise. Resumidamente, animais tratados com AA ou sem AA mantiveram todas as características iguais de choque anafilático.
      Porquinhos da índia criados como animais de estimação devem ter uma dieta com feno de capim ilimitado, água filtrada e fresca ilimitada, vegetais, frutas e suplementação de vitamina c. Das rações vendidas oficialmente em solo nacional, na data deste arquivo, as recomendadas são: Funny Bunny delícias da horta, Pet Valle Porquinho da índia, Nutrópica Porquinho da índia e Presence Cobaia Porquinho da índia. Destas somente as duas últimas mencionadas possuem quantidade suficiente de AA a ponto deste não precisar ser suplementado com as 20mg/dia, desde que bem acondicionadas e ao abrigo da luz. A suplementação quando necessária deve ser feita com qualquer tipo de AA em gotas, não podendo ser polivitamínicos, pode ser utilizado suplementos humanos ou veterinários, como Vita Vet C, Redoxon, Vita C ou Cewin. As duas gotas diárias devem ser dadas diariamente direto na boca do animal, por meio de colher ou seringa. Adicionar na água em meios não controlados não garante a absorção necessária, uma vez que a quantidade de água ingerida varia e a luz degrada a vitamina.
     A respeito da degradação média de AA em diversos alimentos, como hortaliças, sucos, frutas e polpas os resultados podem ser utilizados para analisar as condições ideais de armazenamento para evitar a perda da vitamina c. Os estudos relacionam a presença de oxigênio, luz, umidade e temperatura como os fatores determinantes para essa degradação. Um estudo de 2004 relacionou a perda do AA em suco de laranja, mantendo constante as variáveis e variando somente a temperatura. No produto estocado a 10°C se obtém 95,9% da vitamina c original após 70 dias. A 30°C se obtém 90,2% do AA original em 34 dias. Em 50°C a perda é expressiva e 28,6% está disponível após somente 14 dias. A tabela abaixo exemplifica em detalhes os dados obtidos. 
Quantidade de AA relacionado em dias por temperatura
Dias
10°C
30°C
50°C
0
100
100
100
1
101,5
Nd
97,4
8
98,4
97
63,4
10
98,1
94,2
44,4
14
97,3
95,2
25
21
96,3
90,5
Nd
25
97,6
90,4
Nd
34
Nd
90,2
Nd
63
96,7
Nd
Nd
70
95,9
Nd
Nd
Nd representa um valor não medido. Os valores são aproximados. 0 dias representa a abertura da embalagem do produto
     O oxigênio é também um dos fatores determinantes, produtos que contenham vitamina c necessitam de acomodação em embalagens não aeradas, e preferencialmente com inserção de nitrogênio da embalagem. Em suco de laranja exposto as condições normais não apresentou uma diferença significativa na quantidade de AA após três dias, esta que se manteve satisfatória até o sétimo dia, apresentando perda máxima de 20% no período. A taxa de degradação não é linear, sendo mais acentuada no início e menos acentuada no final.
      A perda de AA em hortaliças foi verificada por meio de um estudo que mediu o valor de AA na colheita e no prato do consumidor, para verificar a perda nesse processo. Comprovou-se a perda de 32,9 a 71,3% de vitamina c no processo. Em um restaurante industrial a perca do AA no tomate foi de 50%, enquanto no restaurante comercial o valor é demonstrado a seguir:
Recepção
19,07 ± 3,99
Armazenamento
17,37±4,24
Higienização
13,91±2,68
Fatiamento
12,69±2,34
Distribuição
9,31±2,44

                Com a finalidade de analisar a quantidade de vitamina c recebida diariamente por um Porquinho da índia submetido a uma dieta padrão divulgada na internet e variando a ração, a quantidade de AA de cada ração é colocada a seguir.
Guabi Rói
Nutrópica
Presence Cobaia
Funny Bunny
0,15g/kg
0,5g/kg
0,882g/kg
0,1g/kg
Fonte: Rótulo das embalagens
Para o cálculo da quantidade diária de ração consumida foi realizada a pesagem de duas colheres das rações Rói e Cobaia. A ração Rói apresentou 20 gramas e a Cobaia 30 gramas. Sendo assim será utilizado o peso de 0,025kg de ração para duas colheres.
              
           A dieta utilizada foi retirada de www.porquinhosdaindia.com e é reproduzida a seguir:

           O dia escolhido para a análise é o de terça-feira, em que será dado: Feno de Capim a vontade, água a vontade, 2 colheres de ração, uma xícara de chá de brócolis, tomate, alface romana. A xícara de chá média de vegetais obtida foi de aproximadamente 100g.
                A quantidade de vitamina c no feno e na água não será tratada devido a pequena quantidade, e a quantidade de AA em cada vegetal oferecido é colocado a seguir:
Vegetal
Ácido Ascórbico em g/100g de alimento
Brócolis
0,0892
Tomate
0,0137
Alface Romana
0,004
Fonte: Buscador Google – Resultado automático
                Utilizando os dados anteriores que os vegetais perdem cerca de 50% da sua vitamina c desde a plantação ao consumo, de vegetais será fornecido um total 53,45mg de AA neste dia de alta dose de AA, em um dia comum se pode ser considerado 20mg.
             
A ração será considerada um aproveitamento de 70% da vitamina c, supondo que a mesma foi guardada em condições de alta qualidade.
Ração
AA em 25g de ração (100%)
AA em 25g de ração (70%)
Rói
3,75mg
2,625mg
Cobaia
22,05mg
15,43mg
Nutrópica
12,5mg
8,75mg
Funny Bunny
2,5mg
1,75mg
Coluna 2: Representa a quantidade de AA com 0% de degradação
Coluna 3: Aproximação real da quantidade de AA com 30% de degradação
Obs: Ração Rói não deve ser fornecida
                Como a dieta do Porquinho da índia doméstico não segue à risca a dieta proposta, os valores são apenas uma estimativa com grande variação e a degradação do AA depende de inúmeros valores.

    2. CONCLUSÃO

        As quantidades de ácido ascórbico proposto pelas literaturas divulgadas na internet possuem valores plausíveis de vitamina c. Sendo que ao considerar que a dieta do porquinho não é exclusiva de ração e durante o intervalo de uma semana os complementos, como vegetais e frutas são variáveis e com AA variável, conclui-se que não é necessária a suplementação de vitamina c quando oferecida ração Presence Cobaia ou Nutrópica. Verifica-se também que os valores semanais de AA não acarretarão superdosagem.
                Ao se fornecer uma ração sem valores necessários de AA a suplementação de AA com duas gotas diárias se apresenta com um valor necessário e plausível, sendo que em dias de vegetais com alta dosagem de AA continua necessária a suplementação, para que no fechamento semanal um bom valor seja atendido. Algumas literaturas propõe a suplementação de vitamina c para rações Cobaia e Nutrópica com 2 gotas, duas vezes na semana. Neste caso é importante analisar a dieta, mas, embora não necessária, esta suplementação se demonstra uma alternativa interessante, já que dificilmente causará superdosagem.
                Quando se refere a superdosagem, devido a não possuir estudos concretos em cobaias do gênero Cavia, foi calculada a dose com base em alta dosagem para humanos. Em humanos adultos a dose recomendada de Vitamina C por dia é de 80mg, sendo a superdose acima de 2000mg, convertendo os valores para C.porcellus a superdose é acima 500mg, valor extremamente elevado. É importante relembrar que nunca foi documentado intoxicação em cobaias ou humanos por alta dosagem de AA.
                Quanto ao armazenamento de ração conclui-se que o prazo de 90 dias de validade é plausível quando observado somente a manutenção do ácido ascórbico, desde que armazenada em embalagens seladas a passagem de oxigênio, luz e mantidas em temperaturas amenas. A ração que permaneça no pote de ração, exposta a oxigênio, luz e umidade não apresentará perda significativa no período de 24 horas, sendo que após este período recomenda o retorno a embalagem original e a retirada de uma nova amostra da ração. O resfriamento da ração não se torna necessário e as recomendações de armazenagem do fabricante devem ser seguidas.
                Para a embalagem da vitamina c em gotas, é plausível o armazenamento em geladeira, acima de temperatura de congelamento. Desta forma dificilmente haverá uma perda significativa da quantidade de AA durante o prazo de validade. O armazenamento a temperatura ambiente é aceitável da mesma forma. É importante deixar a vitamina resfriada se aquecer até a temperatura ambiente, ao abrigo da luz, para que não tenha problemas de saúde no animal.

    3. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

   JÚNIOR. Efeito da deficiência dietética em ácido ascórbico sobre parâmetros morfológicos e funcionais da reprodução em cobaios (Cavia parcellus) machos adultos. 2004.

     CORREIA, Paulo. Vitamina C e anafilaxia. Revista de Medicina, v. 26, n. 104, p. 53-68, 1942.

   ANDRADE, Antenor; PINTO, Sergio Correia; DE OLIVEIRA, Rosilene Santos. Animais de laboratório: criação e experimentação. SciELO-Editora FIOCRUZ, 2006.

    CONCENTRADO, EM SUCO DE LARANJA. CINÉTICA DA DEGRADAÇÃO DO ÁCIDO ASCÓRBICO. 2004. Tese de Doutorado. Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho.

     TEIXEIRA, Mirella; MONTEIRO, Magali. Degradação da vitamina C em suco de fruta. Alimentos e Nutrição, v. 17, n. 2, p. 219-227, 2006.

     LIMA, Eráclito Silva et al. Redução de vitamina C em suco de caju (Anacardium occidentale L.) industrializado e cajuína. Química Nova, v. 30, n. 5, p. 1143, 2007.

    MORAES, Flávia Aparecida et al. Perdas de vitamina C em hortaliças durante o armazenamento, preparo e distribuição em restaurantes. Ciênc Saúde Colet, v. 15, n. 1, p. 51-62, 2010.

     BAGNI, Regiane. Guia de informações e cuidados para donos. Acesso em 2015.